A dívida e o défice

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O Papa Francisco tem-se referido a uma “dívida ambiental”, quando aborda a 21. ª Cimeira do Clima, que hoje começa em Paris. E tem toda a razão. O que a maioria esmagadora dos Chefes de Estado deste planeta estará a discutir (numa maratona diplomática que começou no Rio de Janeiro, em 1992, com a assinatura da Convenção do Clima) é o modo de evitar que a continuada alteração da composição química da atmosfera, iniciada com a Revolução Industrial, e acelerada depois de 1945, possa conduzir a uma catástrofe ontológica que faça recuar a humanidade para uma longa e mais cruel Idade das Trevas. Há, infelizmente, três motivos para as expectativas serem muito baixas. Primeiro: partimos muito atrasados. Evitar as alterações climáticas já está fora do nosso alcance. Para minimizar os danos, contudo, importa impedir que o aumento global médio da temperatura ultrapasse em 2º C, em relação ao período pré-industrial. Segundo: os políticos em Paris estão equivocados. Julgam estar a negociar uns com os outros, quando na verdade do outro lado da mesa está a natureza com as suas leis implacáveis. Ela não aceita subornos nem palmadas nas costas. Terceiro: os principais interessados no sucesso da Cimeira não estão na sala. São os nossos filhos e os nossos netos. São eles que viverão num mundo em permanente alerta para catástrofes naturais, das secas e ondas de calor, às enxurradas diluvianas. São eles que farão parte das vagas de refugiados climáticos abandonando as grandes cidades costeiras. A dívida ambiental não sofrerá redução ou perdão. Será paga até ao fim por todos aqueles que ainda não nasceram. Em Paris não faltarão nem capital nem tecnologia para impedir o pior. O grande e invencível obstáculo é o défice ético. Costuma ter, lamentavelmente, a última palavra.

Viriato Seromenho-Marques
Opinião DN 30.11.2015