APRe! Bolas! Arre!

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Patricia Ervilha

Qualquer uma servia o propósito: um conjunto de pessoas, inconformadas com o destino dado por este governo às suas reformas, associa-se, movimenta-se e reclama por direitos adquiridos. Bem hajam estas pessoas. Com elas, me solidarizo totalmente e ao lado delas irei para a rua sempre que necessário.
Eu não espero nada do estado, embora continue a contribuir mensalmente, não espero que o estado me garanta a velhice. Mas eu tenho 38 anos e ainda, por muito injusto que seja perder os já 17 anos de descontos, posso encontrar uma solução alternativa. Posso, se o governo me disser que não assegura a minha reforma e me permitir uma alternativa, posso escolhe-la.
Aqueles que se reformaram nos últimos cinco anos, por exemplo, trabalharam quarenta, quarenta e cinco, cinquenta anos, descontando mensalmente para um sistema no qual acreditavam. Descontaram para o mesmo sistema as suas entidades patronais. E assim criaram a expectativa de uma reforma.
Agora, um governo sem escrúpulos, sem vergonha, sem razão, diz-lhes que afinal foi tudo um engano e afinal não podem ver o resultado de toda uma vida de trabalho porque a troika porque a crise porque isto e porque aquilo… Como disse João Cravinho já esta semana num comentário televisivo: que direito tem o governo de tomar uma medida destas, que direito tem o governo de defraudar os seus cidadãos, que direito tem o governo de faltar à palavra do estado? O que vale afinal a palavra do estado? Que direito tem o governo de “tabelar” as reformas? Se alguém descontou sobre 3000 euros que direito tem agora o governo de dizer que isso era demais e portanto, corta na reforma? Que respeito podemos nós ter por um governo que não tem vergonha de roubar aqueles cidadãos e cidadãs que contribuíram mais décadas do que tem de idade o Sr. Coelho para um estado que lhes prometeu uma reforma? Que direito tem o Sr. Coelho de quebrar os valores fundamentais da justiça e da equidade, expressos na Constituição da República Portuguesa?
Como pode o governo esperar mais de um povo que já lhe deu tudo e que agora se vê brutalmente assaltado, precisamente na idade em que o sossego seria devido?
A APRE é um exemplo de que os movimentos não têm que sair dos jovens, de que a luta pelos direitos é verdadeira e continua. A APRE é um exemplo para todos. A APRE levantou-se do sofá e foi à luta. Foi à luta hoje porque as mesmas pessoas que a constituem foram à guerra pela pátria, saíram à rua pela liberdade e deixaram aberto o espaço que a democracia tanto precisava. Pena que a democracia os tenha traído. Caso será para perguntar: Sr. Coelho e onde estava o senhor no 25 de Abril de 74? Dê-se ao respeito!
Jornal de Leiria, Março 2013