Carta – Resposta da PAR

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Exma. Sra. D. Maria do Rosário Gama,
Vi a mensagem que me enviou, reconhecendo nela uma espécie de explicação cívica que agradeço. E quero ainda dizer o seguinte:
O direito de manifestação não está, nem pode estar, nunca, em causa.
O que está em causa é o pretenso direito de o fazer interrompendo o processo de decisão do Parlamento.
O Parlamento é de todos nós, é, por isso, o vosso Parlamento. Ele é o núcleo do regime democrático e a sua pluralidade implica que todos se podem manifestar perante ele, mas não contra ele.
Aqui, nós seguramos as regras por que nos entendemos e desentendemos e só por elas é possível construir a justiça e o progresso.
Àqueles que aqui trazem os seus clamores, digo que nós sentimos orgulho em ser a porta a que se bate, o último baluarte da esperança. Não sabe quantas vezes sinto a tentação de descer as escadas a levar o abraço dos 230 que aqui se sentam!
Não o fazendo por ser impossível fazê-lo sempre, ainda assim deixo aos manifestantes um recado.
Mas interromper o processo de votação do Parlamento não está bem.
É essa a diferença entre cantar a Grândola que nos libertou nas escadas ou nas galerias. Nas escadas é uma celebração, mas nas galerias pode ser uma alienação.
Um abraço amigo e conto convosco.
Maria da Assunção A. Esteves
Presidente da Assembleia da República