E agora, que futuro para o mundo?

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O mundo, sobretudo o quadro geopolítico, está a mudar de modo muito rápido e profundo. E estas mudanças geram quadros de grande incerteza e intranquilidade sobre a vida das sociedades, sobre os quadros de expectativas das pessoas.

E agora? – Esta será provavelmente a pergunta que muitos de nós, por esse mundo fora, vamos colocando a nós próprios face aos desenvolvimentos verificados nos últimos meses no tabuleiro político internacional.

Não sou politólogo nem especialista em assuntos políticos, mas ainda assim atrevo-me a partilhar neste espaço algumas (in)certezas acerca do quadro político a que chegámos.

A realidade do mundo por estes meses apresenta sinais que não sendo de uma revolução, são pelo menos reveladores de alterações profundas sobre as linhas evolutivas que vinham sendo seguidas ao longo das últimas décadas pelo menos no mundo ocidental.

Por um lado o projecto comum europeu, criado após a II guerra mundial, com uma matriz muito economicista, centrada na procura de novos mercados, cresceu nessa medida até ao ponto da criação de uma moeda única e até ao limite das fronteiras do alargamento aos países de leste. Entrou depois numa espécie de impasse, sem grande margem para alargar o crescimento económico e, por isso, com os países a não saberem muito bem o que fazer e a perderem um rumo colectivo com que verdadeiramente se identificassem. Este quadro de alguma incerteza sobre o projecto europeu, tropeçou ainda mais com os desequilíbrios orçamentais registados pelos diversos Estados e agravou-se muito com a crise dos refugiados e a incapacidade evidenciada para a procura de soluções conjuntas. O projecto europeu perdeu consistência. Os líderes políticos e depois os povos dos diversos Estados começaram a desacreditar nele.

Foi neste contexto e com alguma naturalidade que, em referendo, os Ingleses decidiram abandonar a União Europeia, o denominado brexit, cuja concretização, ao que se sabe, pretende iniciar-se brevemente – no momento em que escrevo estas palavras é noticiado que os tribunais ingleses verificam a necessidade de o governo Inglês carecer do apoio do parlamento para accionar a saída.

Este é um caminho novo que nunca foi trilhado na União Europeia e cuja concretização na realidade não estava na mente de nenhum dos fundadores do projecto, nem dos lideres políticos de qualquer um dos Estados até há poucos anos. Mas a opção de dispersão não pode deixar de ser considerada com alguma naturalidade, dados os evidentes sinais de impasse em que todo o projecto parece ter entrado.

Entretanto, do outro lado do Atlântico, também por voto democrático, acaba de ser eleito e empossado um presidente dos EUA que está a dar sinais de querer alterar profundamente e de forma rápida o caminho colectivo que foi trilhado até aqui em diversas áreas, como sejam os apoios sociais, os cuidados ambientais ou a segurança, entre outros. Também neste caso, a opção dos cidadãos pode ficar a dever-se a alguns índices de insatisfação relativamente a opções políticas tomadas anteriormente e à não concretização efectiva de algumas das expectativas que foram criadas nesses contextos.

Por outro lado e sem se dar grande importância a esta vertente da realidade, a pujante economia chinesa vai gradualmente, quase de forma imperceptível, tomando conta dos grandes negócios e ganhando um peso crescente na economia e nos mercados globais.

E, para confundir tudo, temos também todo um conjunto de conflitos regionais e de actos terroristas associados a fundamentalismos ideológicos e culturais, que incrementam, e muito, o estado de incerteza e sobretudo de insegurança das populações.

O mundo, sobretudo o quadro geopolítico, está a mudar de modo muito rápido e profundo. E estas mudanças geram quadros de grande incerteza e intranquilidade sobre a vida das sociedades, sobre os quadros de expectativas das pessoas. A incerteza afeta a economia, os investimentos e, por esta via, o emprego e a estabilidade social. A incerteza afecta a vida de todos e de cada um de nós.

E agora, que futuro para o mundo? Como estaremos daqui a um ano? Ou daqui a alguns meses apenas? Quem sabe? Quem nos pode ajudar? – Estas são seguramente questões relativamente às quais todos gostaríamos de ter dados mais concretos.

O mundo, o único local que se conhece para vivermos, está a ficar um local estranho.

António João Maia
Jornal i opinião 25.01.2017