#genteboa

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“Ainda há gente boa”. José Manuel era ontem um homem feliz. Ligou à Marta para comunicar que o pai já tem uma cadeira de rodas, “que é nova, apesar de usada”, depois de um apelo publicado no JN. Um leitor leu e ofereceu a cadeira, que um dia servira lá em casa, ao velho senhor. “Não digo o meu nome. Só quero saber se podem vir buscá-la”, tinha dito, no dia anterior, à Marta, que tratou logo de passar a mensagem. José Manuel foi notícia por más razões. Está doente, tem três filhos pequenos, invadiu a privacidade dos pais por não conseguir pagar uma renda e reconhece que a impaciência da mãe tem muita razão de ser. Foi mais um dos casos da Marta, a quem chamo a “assistente social” da Redação, mas podia ser do Miguel, da Carla, da Hermana, do Hugo ou de qualquer outro jornalista que, todos os dias, atende telefonemas de gente que está à beira de despejo, está em desespero, está sem comida, está à beira do abismo. Gente que se tornou invisível, que deixou de ter voz, que incomoda com as suas queixas. E por que procura esta gente o jornal? Porque sabe que as instituições falham, que são muitos os que pedem socorro a uma sociedade afogada em falta de respostas. Porque o Estado social está a morrer, é quase quimera, para pena de quem acredita que os que têm mais podiam repartir um bocadinho. Por isso, fico feliz pelo pai do José Manuel que ganhou uma cadeira de rodas. Afinal, hoje é Dia do Pai e de S. José. E da gente boa.

Margarida Fonseca
Opinião JN 19.03.16