Hoje é o Dia da Mãe Trabalhadora

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Nenhum dia, nem o que lhes está reservado com nome próprio, é mais Dia da Mulher do que o dia em que coincide o Dia da Mãe com o Dia do Trabalhador. E isso acontece sempre que o primeiro domingo de Maio calha no dia 1.

Há uns anos, a minha mãe estava viva e eu escrevi-lhe uma carta, no tempo em que se escreviam cartas, a lembrar-lhe: “O Dia da Mãe este ano coincide com o Dia do Trabalhador.” Nessa altura pareceu-me que o calendário estava a fazer justiça a todas as mães, com especial destaque à minha, e por isso lhe escrevi uma coisa mais pessoal que agora partilho com quem me lê: “Tenho há décadas a imagem de uma supermulher. Guardo a memória de um grande amor. A tua inteligência fascina-me e a tua pertinência desarma-me.” A minha mãe criou nove filhos e sempre foi uma revolucionária, nunca deixando que o tempo novo andasse à frente dela.

Há ainda um longo caminho a percorrer na igualdade entre homens e mulheres no trabalho. Parece-me evidente que as mulheres que fazem legitimamente a opção de não serem mães conseguem mais facilmente ultrapassar os constrangimentos de viver uma vida profissional ainda muito marcada pelo domínio machista. Uma mulher que decide ser mãe continua condenada a ter de fazer uma opção. Com demasiada insistência, as lideranças, quando não elas próprias ou a família, pedem-lhes que decidam qual é a sua prioridade. Como se elas não tivessem o direito de se sentirem simultaneamente realizadas profissionalmente e no papel de mães.

É em casa que começa a educação de todos nós e lá que os homens precisam de fazer um esforço maior. A desculpa de um trabalho menos participado na família em consequência de um esforço maior na vida profissional, muitas vezes por força dos cargos exercidos, é uma pescadinha de rabo na boca. Enquanto em casa não houver uma verdadeira igualdade, ela também nunca chegará ao local de trabalho. Quando aponto a culpa dos outros, sei que tenho um dedo apontado a eles e um dedo apontado a mim próprio. Também eu tenho um longo caminho a fazer. O que já conseguimos fazer não pode servir de satisfação.

Este dia que já foi da minha mãe e que é agora da minha mulher, que é mãe a 100% e profissional a 100%, é como sempre foi o Dia de todas as mães trabalhadoras. Das poucas que conseguem vencer nos dois lados e da larga maioria a quem não são dadas hipóteses de o fazer. Não deixo de me questionar: por onde andava o mundo sem a energia destas mulheres? Sem a sua humildade, a sua inteligência, a sua perseverança?

Paulo Baldaia
DN 01.05.2016