Mais jovens, menos letal, gerida dia a dia. Como a covid-19 evoluiu em quatro meses

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Desde o início da epidemia de covid-19 em Portugal, há quatro meses, detectaram-se 42.782 casos, mas 66% já são considerados recuperados. A doença mata mais nos mais velhos, mas é nos mais jovens que há mais infecções – principalmente desde o início do desconfinamento.
Sofia Neves e Infografia | PÚBLICO 2 de Julho de 2020, 19:20
Há precisamente quatro meses, a 2 de Março, Portugal anunciava o primeiro caso positivo de SARS-CoV-2. Depois de vários períodos de estado de emergência e calamidade — e de um desconfinamento com altos e baixos — existem ainda 13.098 casos activos e o novo coronavírus já infectou 0,41% da população portuguesa. Os mais velhos são também os mais vulneráveis à covid-19 e é na faixa etária dos cidadãos acima dos 70 anos que há registo de mais vítimas da doença. Mesmo assim, as autoridades olham com preocupação para os mais jovens, principalmente desde o início do desconfinamento, altura em que os casos nestas faixas etárias começaram a subir em flecha​.
Fig. 1
No início da epidemia, as atenções começaram por estar viradas para o Norte, onde foram registados os dois primeiros casos – dois cidadãos vindos de Itália e Espanha. Nos primeiros dois meses, o Norte foi a região mais fustigada pela doença: até 2 de Maio concentrava 59% dos casos confirmados em todo o território nacional e 35% das mortes.
Os cenários negros vividos em países como Espanha, França ou Itália, aliados ao facto de o vírus ter chegado tardiamente a território nacional, fizeram com que Portugal tivesse tempo para se fechar e impedir um cenário em que os casos confirmados subissem de forma descontrolada e levassem a uma crise nos hospitais.
Logo a 7 de Março, quando Portugal tinha 21 casos de infecção (e já os hospitais de São João e Santo António, no Porto, esgotavam a capacidade de resposta a casos suspeitos e viam-se confrontados com a necessidade de activar novas unidades), as visitas a hospitais, lares e estabelecimentos prisionais da região Norte foram suspensas temporariamente.
Fig.2
Cinco dias depois, o Governo decide que todas as escolas de todos os graus de ensino suspendem as actividades presenciais, dando assim arranque às primeiras medidas de confinamento. Na semana de 11 a 18 de Março encerraram-se discotecas, reduziu-se a lotação máxima dos restaurantes, limitou-se o número de pessoas em centros comerciais e serviços públicos. Várias universidades anunciaram que iam fechar portas e, quando Portugal se aproximava dos 800 casos de infecção e registava três mortes, teve início o primeiro período do estado de emergência, que confinou a população e restringiu a circulação. Portugal só viria a sair do terceiro estado de emergência a 2 de Maio — foram 45 dias de confinamento — e a começar a abrir-se lentamente nessa semana, já em estado de calamidade.
Atenções viram-se para Sul. E para os mais jovens
Nesta fase da epidemia é a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) que faz aumentar diariamente o número de casos diagnosticados na totalidade do território nacional. O momento de viragem aconteceu a 9 de Maio: desde esse dia que os concelhos da região de Lisboa ultrapassam diariamente o Norte (e as restantes regiões do país) em novos casos de infecção. Dos 4693 casos registados nos últimos 15 dias, 3685 (79%) foram registados em Lisboa e Vale do Tejo. Esta mudança aconteceu não só porque o número de casos a Norte estabilizou, mas também porque a taxa de crescimento de LVT não pára de subir.
Foi este aumento de novos casos e mortes verificado durante semanas consecutivas que levou autoridades e Governo a dar um passo atrás na região de Lisboa. Esta quarta-feira, quando o país passou de situação de calamidade para o regime de estado de alerta, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) passou ao estado de contingência (um estado intermédio), havendo, no entanto, 19 freguesias de cinco concelhos da AML que vão permanecer em estado de calamidade. Uma situação descrita por António Costa como “claramente distinta” da do resto do país.
Outra das grandes mudanças no panorama da pandemia em Portugal aconteceu também no pós-confinamento. Desde o dia 4 de Maio que o número de novos casos de covid-19 entre os jovens tem vindo a aumentar: cresceram 114% na faixa etária entre os dez e os 29 anos. Só entre os 10 e os 19 anos, de acordo com os dados da Direcção-Geral da Saúde, os casos cresceram 129% até esta quinta-feira; dos 20 aos 29 anos, aumentaram 110%. Em comparação, o segmento dos 50-59 anos (o que tem o maior número de casos confirmados desde o início da epidemia) cresceu 54% desde o desconfinamento.
Fig. 3
Os mais jovens têm merecido uma atenção especial por parte do Governo e das autoridades da saúde, que têm apelado a que continuem a respeitar as regras de distanciamento social e de higiene para impedir uma subida vertiginosa de novos casos. Nas últimas semanas, as autoridades foram chamadas a intervir para dispersar jovens que se reuniam com os amigos em festas.
É, contudo, na faixa etária dos mais velhos, os mais vulneráveis à doença, que há registo de mais vítimas da covid-19. Em 1.587 mortes, 1369 (ou 86%) foram registadas em cidadãos acima dos 70 anos. Mas se olharmos para os casos diagnosticados é na faixa etária dos 40 aos 49 anos que há mais infectados. Neste segmento populacional existem 7.104 casos confirmados, seguindo-se a faixa etária dos 30-39 anos (6.852 casos) e a dos 50 aos 59 (6.690).
Fig. 4
O que mudou depois de quatro meses?
Portugal tem, nesta altura, 13.098 casos activos de infecção pelo novo coronavírus. Das 42.782 pessoas que já foram infectadas, 28.097 já estão curadas, o que significa que 66% das pessoas que já tiveram a doença foram consideradas recuperadas pelas autoridades de saúde. Lisboa e Vale do Tejo é a mais afectada em número de casos, seguindo-se o Norte, a região do país com mais vítimas mortais da covid-19.
Das 1587 mortes registadas desde o início da epidemia, 1043 (ou 66%) foram registadas antes do desconfinamento, que se iniciou a 4 de Maio. E grande parte (cerca de 59%) dos 42.782 casos detectados foi também contabilizada antes desta data.
O boletim da DGS desta quinta-feira confirma uma tendência que se tem vindo a verificar desde a primeira semana de Junho, com a excepção de algumas subidas e descidas: o aumento dos internamentos gerais por covid-19. Existem, neste momento, 510 pessoas internadas (433 em enfermarias e 77 em unidades de cuidados intensivos), uma subida de 144 internamentos em relação a 8 de Junho, altura em que este valor começou a aumentar. O número de internamentos desta quinta-feira é também o valor mais alto desde 30 de Maio, quando existiam 514 pessoas internadas. Apesar de este registo ser o mais alto deste último mês, o número de internados está muito longe dos picos atingidos em Abril, quando chegaram a existir 1302 pessoas internadas, 229 destas nos cuidados intensivos.
Fig. 5
Portugal tem, nesta quinta-feira, mais oito mortes por covid-19, um aumento de 0,5% em relação a quarta-feira, contabilizando-se um total de 1587 vítimas mortais no país desde o início do surto. Há mais 328 pessoas infectadas, o que corresponde a uma taxa de crescimento de 0,77%, num total de 42.782 casos confirmados.