O meu olhar sobre a Conferência “O FUTURO NÃO TEM IDADE” – A síntese possível de Rosário Gama!

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A Conferência Nacional da APRe! “O Futuro Não Tem Idade” realizada no dia 20 de Maio, em Lisboa, foi um acontecimento de grande relevo na vida da Associação, quer pelo interesse que suscitou, quer pela qualidade e variedade das comunicações, quer pela excelência dos oradores, quer ainda pela participação do Presidente da República na sessão de encerramento.

A Conferência iniciou-se com as boas-vindas dadas pelo Vice-Presidente e pela intervenção de Vitor Ferreira, elemento da Direcção, Delegado da Região de Lisboa e coordenador do grupo de trabalho que tornou possível a realização eficiente desta Conferência, por sua vez cronometrada ao minuto, segundo a planificação feita pelo elemento da Direcção, Betâmio de Almeida.

O primeiro painel, “O Sistema de Pensões Português – perguntas por responder” foi dinamizado pelo membro da Direcção, António Lopes Dias e teve como oradores os Drs. Eugénio Rosa e Pedro Adão e Silva. Sendo dois conhecidos intervenientes sobre a temática da sustentabilidade da segurança social, convergiram em muitas das suas mensagens, devendo salientar alguns pontos: para que a Segurança Social seja sustentável, de acordo com o modelo actual, é necessário garantir o crescimento económico e o emprego, recuperar o dinheiro já declarado à Segurança Social e não pago e lutar contra a evasão e fraude fiscais (Eugénio Rosa).

Pedro Adão e Silva destacou os mitos que existem na sociedade portuguesa, sobre a Segurança Social, considerando que não passam de ideias feitas e que constituem uma obstáculo impeditivo de uma discussão aberta. Há que combater esses mitos, como, por exemplo, o mito do determinismo demográfico, minimizado pela produtividade que tem vindo a aumentar e que é um indicador importante a ter em conta. Ambos defendem a diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social.
No segundo painel, moderado pela Dores Ribeiro, elemento da Direcção da Apre!, tivemos dois olhares sabedores sobre o envelhecimento através da Dra. Maria Joaquina Madeira e da Dra. Maria de Lurdes Quaresma: o tempo e o direito de envelhecer, o percurso que marca a construção dos direitos sociais e humanos é o traço que une as diferentes gerações face ao futuro. Maria Joaquina Madeira referiu-se ao preconceito que há sobre os idosos, tendo feito um repto à APRe! para um estudo sobre o valor social dos idosos e o seu contributo para a preservação da sociedade portuguesa. Defendeu a criação de um parlamento sénior. Maria de Lurdes Quaresma referiu-se ao dever que temos de exprimir o nosso olhar sobre a sociedade tendo feito referências às questões intergeracionais e propondo uma política activa de envelhecimento.
Antes do 3º painel, foi feita pelo Fernando Martins, vice-presidente da APRe!, a apresentação de

Ebbe Johansen, vice-presidente da AGE-Platform que fez uma comunicação sobre a AGE e a sua representatividade na Europa.

O 3º painel foi moderado pela Ângela Dias da Silva e teve como oradores a Dra. Ana Paula Gil e o Dr. Rui Brites. A primeira oradora falou sobre a violência sobre os idosos, tendo apresentado os resultados de um estudo que realizou sob Envelhecimento e Violência (PDTC/CS-SOC/110311/2009). A violência contra as pessoas idosas, enquanto fenómeno emergente no atual cenário do envelhecimento demográfico, tem vindo a ganhar visibilidade crescente quer a nível internacional como nacional. Conhecer as condições de ocorrência e os fatores de risco associados é o primeiro passo para a definição de uma estratégia de intervenção pública. Entre os principais resultados do estudo, destacam-se as (a) estimativas do número de pessoas que em Portugal são vítimas de alguma forma de violência (física, psicológica, financeira, sexual e negligência) em contexto familiar; (b) a tipificação dos grupos mais vulneráveis face à violência; (c) caracterizar o perfil dos agressores e alguns fatores associados (isolamento, problemas de saúde mental, alcoolismo, dependência económica, entre outros); (d) as razões evocadas pelas vítimas para não denunciar ou apresentar queixa e (e) a trajetória que as vítimas fazem na rede institucional.

A intervenção de Rui Brites sobre a “Felicidade e Qualidade de vida dos Idosos”, debruçou-se sobre a busca ancestral da “fonte da eterna juventude” que teve sempre subjacente a ideia de contrariar o tempo vivido e tornar a juventude eterna. Mas como nunca passou disso – uma busca – uma vez que não podemos contrariar o envelhecimento, evitemos ser velhos, pois envelhecer é um privilégio e a alternativa não é algo que se recomende. O “segredo” da felicidade consiste em morrer jovem… o mais tarde possível.

O 4º painel, moderado por Maria do Rosário Gama, teve como oradores a Prof. Dra. Maria João Rodrigues e o Dr. Rui Tavares. A primeira referiu-se à crise da Europa responsável por um

crescimento anémico e dificultadora da adesão dos cidadãos em torno de um mesmo projecto, defendeu que devemos exigir à Alemanha solidariedade no plano económico, do mesmo modo que a Alemanha nos exige solidariedade no acolhimento dos refugiados e comunicou o seu projecto de elaboração de um relatório sobre o pilar dos direitos sociais fundamentais.

Rui Tavares, relativamente ao futuro que nos espera, referiu-se à questão ambiental, às novas tecnologias e ao impacto que podem vir a ter na área da saúde ou, ainda por exemplo, de problemas relacionados com a futura escassez do trabalho resultantes de uma futura automação de meios de transporte. Falou dos Direitos Humanos e na indefinição política de alguns países, nomeadamente europeuss, entre a democracia e o fascismo.

No início da sessão de encerramento, os coros da APRe! de Coimbra e do Porto cantaram, pela

primeira vez em conjunto, o “Acordai” de Lopes Graça, sob a direcção da Maestrina Susana Teixeira. Foi um momento muito especial, nesta Conferência, quer pelo simbolismo da peça musical, que apela a um alerta constante, quer pela unidade destes dois coros que ensaiam a 100 Km de distância.

Finalmente, a sessão de encerramento contou com a presença do Presidente da República que se afirmou defensor da Constituição e, como tal, defensor dos direitos dos cidadãos. Incentivou à mobilização dos reformados, tendo por mais do que uma vez usado a expressão “não desmobilizem”. Realçou a importância de movimentos cívicos uma vez que a vida política não se esgota nos partidos nem nos tradicionais movimentos sindicais.

Posso reafirmar que a Conferência cumpriu todos os objectivos, foi um grande êxito e deixou os participantes entusiasmados e motivados. Parabéns à Delegação de Lisboa pela excelente organização.

Maria do Rosário Gama