Porque escolhemos não ver os velhos?

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 Com o início da pandemia percebeu-se que os mais velhos eram também os mais vulneráveis. Hoje, em Portugal, 67% do total de mortos têm mais de 80 anos. Os residentes em lares foram dos mais afectados. Adriano Miranda procurou duas excepções e fez retratos em dois lares (Lar e Centro de Dia de Alcoutim e Lar Idade D’Ouro, em Melgaço) onde a covid-19 não entrou. Dulce Maria Cardoso revela a sua experiência como cuidadora informal da mãe. Dois ensaios, em jeito de homenagem, para nos pôr a pensar sobre a velhice e a maneira como tratamos os velhos.


 

6 de Abril

Mudei-me para casa da minha mãe há três dias. Tenho medo do vírus, disse-me ela num desespero ao telefone. Acrescentou, Não é só o vírus, sinto-me mal, não quero mais viver sozinha, o teu pai morreu há já tanto tempo, estou cansada. Fiz uma pequena mala de roupa, pus o computador na mochila, fechei as portadas da minha casa e regressei ao lugar de onde saí há quase trinta anos.

O único pedido de que me lembro de a minha mãe alguma vez nos ter feito, a mim e à minha irmã, foi o de que não a internássemos num lar, Não gostava que o meu fim fosse num sítio desses, disse-nos. De resto, dava-nos tudo o que podia sem pedir nada em troca.

Para continuar a ler este comovente diário  de Dulce Maria Cardoso  e excelentes fotos de Adriano Miranda, ver o link: 

https://www.publico.pt/interactivo/porque-escolhemos-nao-ver-os-velhos?