Resumo da conferência/debate, “Preocupações, Angústias e Medos – Viver uma Velhice Apoiada”

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“Preocupações, Angústias e Medos – Viver uma Velhice Apoiada”

Conferência / Debate realizada em Coimbra, no Pavilhão de Portugal, dia 29 de Abril

Conferencistas: José Manuel Silva – Bastonário Ordem dos Médicos e Margarida Pedroso Lima – Faculdade de Psicologia.
Moderadora: Ângela Dias Silva – Dirigente da APRe!

1- Apresentação do tema:

Envelhecer dignamente envolve condições apropriadas de:

protecção social, habitação, saúde, segurança.

A visão política, económica e social de exclusão e de estigmatização da velhice tem trazido á população idosa actual inseguranças e ansiedades acrescidas.

Os direitos das pessoas idosas passam pelo direito de viver com dignidade, ou seja, a garantia de respostas à satisfação das suas necessidades básicas e de cuidados para manter o seu bem-estar físico, mental e emocional.

2- As comunicações:

José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos, questionou o modelo de governação. Se os cidadãos e as organizações da sociedade civil não se mobilizam, elas não contam para os governos. Falta cultura de cidadania em Portugal. A sociedade civil é quem pode forçar a mudança necessária. A APRe! é um bom exemplo dessa mobilização, mas é absolutamente necessário que as pessoas se mobilizem e não cultivem a indiferença.

Numa rápida abordagem ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), contestou a afirmação de que o mesmo não é sustentável por ser uma clara posição político/ideológica dos agentes que o querem destruir. O nosso Serviço Nacional de Saúde foi o melhor do mundo, pela sua universalidade, pela acessibilidade e por ser o menos dispendioso (per capita). Os nossos médicos estão a emigrar: vão ganhar mais, trabalhar menos e com melhores condições. A falta de médicos em Portugal vai-se fazer sentir no sector público, mas não no sector privado. Temos o Estado a pagar melhor no sector privado (exºs dos anestesistas, radiologistas, neurologistas …), o que demonstra a intenção política do governo. Toda esta evolução negativa vai prejudicar os mais frágeis e os mais idosos.

Na Saúde, estamos a caminhar para um serviço diferenciado: um para ricos e outro para pobres. Algumas reformas necessárias no aparelho administrativo não foram e não são feitas por poderem afectar os cargos de nomeação política – ver o caso das ARS, estruturas dispensáveis.

Vivemos um período de completa alienação de Portugal. Só falta vender a TAP e a água.

Abordou, de seguida, a situação dos idosos muito dependentes social e economicamente, fazendo uma crítica à organização dos Cuidados Continuados, referindo que as pessoas estão a ser deslocadas para instituições distantes do seu ambiente. A gestão dos Cuidados Continuados passou a ser vertical e desenraizada da comunidade, não havendo avaliação das consequências. Foi errado acabar com os hospitais concelhios; resolviam 90% dos casos, com equipas e serviços simples e baratos. O que fazer, então? As Unidades de Saúde terão de desenvolver mais apoios domiciliários. É necessário que as pessoas reformadas se organizem desenvolvendo formas próprias e originais de apoio social, não para se substituir ao dever do Estado, mas para tornar este apoio melhor, mais solidário e eficaz.

Margarida Pedroso Lima, Professora de Psicologia e com larga dedicação à investigação sobre a vida e os problemas dos mais velhos, começou por referir que a velhice é uma construção social e que os medos não são específicos dos mais velhos. A tradição em Portugal não é uma tradição de participação social. Seria bom que houvesse mudança. Deu o exemplo de que, enquanto em Portugal há uma associação de famílias com doentes de Alzeimer, em Espanha há 200.

Em Portugal, os medos dos mais velhos são os medos dos mais desprotegidos, dos mais frágeis. A maior parte dos reformados não beneficiou dos bens sociais de que beneficiou uma parte minoritária dos cidadãos, como, por exemplo, a instrução, a educação e o acesso a melhores salários.

Animou um momento de desafio para que os presentes falassem dos seus medos, com boa participação da plateia, o que lhe permitiu, a seguir, analisar vários tipos de medos. Algumas situações são difíceis de mudar, como as dos medos ligados ao sofrimento, embora tenhamos que ter consciência de que não existe vida sem sofrimento. Por isso, temos que enfrentar os medos. Verifica-se que não são os idosos que têm mais medo de morrer, mas as pessoas de meia idade. Citou Platão: a vida como aprendizagem para a morte.

3- No debate final.

Foram tocados outros assuntos em respostas a algumas perguntas. Contrariamente ao que alguns médicos já invocaram na comunicação social, não há indicações superiores para tratamento prioritário às pessoas activas.

A Apre! tem proposto a criação de Comissões Locais de Protecção aos Idosos, pois somos um país de população cada vez mais velha e com vidas mais miseráveis.

A forma de governar, em Portugal, parece ser mais para esconder os problemas do que para os resolver (o Sr Bastonário deu exemplos na área da saúde). O que está a interessar ao poder político é saber se os hospitais são rentáveis em vez de saber se são eficazes no tratamento dos doentes.

Um dos maiores problemas está a ser a falta de natalidade.

Foi reforçada a necessidade de criar alternativas, como o apoio domiciliário. Sugeriu-se a importância da avaliação dos centenários de sucesso para perceber por que acontecem.

Referiu-se, também, a necessidade de mudança de mentalidade das famílias, que parece preferirem que os seus familiares morram nos hospitais, mesmo quando medicamente já não há nada a fazer.

Referiu-se, por último, que os governos governam com programas que não foram sufragados. Talvez uma reforma eleitoral pudesse trazer alterações a este vício.

Coimbra, 29 de Abril de 2015.

Núcleo Apre! Coimbra