DADOS SOBRE O ENVELHECIMENTO ACTIVO

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A transição da vida activa para a de reformado é uma alteração, por vezes, difícil de gerir. E, segundo António F. Mendonça (1), esta alteração/mudança pode provocar alterações sob o ponto de vista da saúde, psicológico e da inserção social. A passagem à reforma pode preparar-se, tendo em conta o seu percurso de vida. Umas decidem ficar ainda mais activas, outras descansar, dependem de variáveis, que ultrapassam as financeiras, sem lhes tirar o seu peso no contexto de outras variáveis.

As variáveis individuais dependem do processo de vida, e como se encara esta nova fase da vida, uns, consideram uma perda generalizada, que, por vezes, se traduz em tristeza, depressão, incapacidade de ocupar o tempo. Outros, encaram de forma positiva, dando outro sentido à vida.

As diferenças entre as formas de envelhecimento, o lugar onde vivemos, a participação na sociedade, desenvolvidos outros interesses para além do trabalho são factores de diferenciação.

Li no El País Semanal, de 18 de Setembro de 2016, uma entrevista a Bernard Pirot, de 81 anos, reformado. Saiu pelo seu próprio pé da TV francesa, aos 65 anos, quando terminou o programa Bouillon de la Culture e hoje dedica-se ao twitter, sendo uma estrela nesta rede social com mais de 400 000 seguidores. Diz, que a adaptação ao twitter não foi fácil ao exigir expressar uma reflexão em 140 caracteres. Vive no seu apartamento em Paris rodeado de livros e de bons vinhos. Gosta do vinho Beaujolais por ser da sua região e, apesar de não se considerar chauvinista, só entrevistava escritores franceses no seu programa. Pelo que refere na entrevista ao El País parece ser um exemplo de uma adaptação à reforma bem-sucedida, tanto mais que escolheu a data da sua saída da TV francesa.

Diz A. M Fonseca “o que promove uma adaptação bem sucedida à reforma? Eu diria a manutenção de continuidade e o envolvimento com a vida, o estabelecimento de relações próximas com os outros, são aspectos fundamentais a ter em conta. Esta última é uma variável extremamente importante, mas não se deve esquecer que as relações próximas com os outros são aspectos fundamentais a ter em conta. E as relações próximas não se estabelecem a partir dos 65 ou 70 anos, isso vem de trás.” Bernard Pivot continuou a falar de literatura e de outros temas mas num meio comunicacional diferente, daí resultando uma excelente forma de adaptação.

Indicadores sobre o envelhecimento activo

A Comissão Europeia, O Comité Económico das Nações Unidas para a Europa e a Universidade de Southampton realizaram um relatório sobre indicadores do Envelhecimento Activo, doravante designado por AAI, (2) abrangendo todos os estados membros da União Europeia. Este relatório diz respeito às várias componentes do envelhecimento activo, para além das pensões, a promoção da saúde, carreiras longas de trabalho. É um instrumento para medir o inexplorado potencial dos idosos no envelhecimento activo e saudável nos estados membros.

Neste contexto, a AAI seleccionou quatro domínios: – contribuição para actividades remuneradas: emprego; – contribuição para actividades não remuneradas: participação na sociedade; – independente, saudável e segurança na forma de viver; – capacidade para promover o envelhecimento activo.

O valor acrescentado neste relatório reside no encorajamento dos decisores políticos para olharem para o envelhecimento numa perspectiva integrada e oferece outras dimensões da potencial dimensão das pessoas idosas.

Apresentam-se alguns quadros para análise da situação Portugal neste contexto. Seleccionaram-se alguns estados membros: Portugal, Espanha, França, Itália, Reino Unido e Suécia e ainda a média da UE28 para facilitar a leitura. A selecção baseou-se na agregação por grupos descritos no parágrafo seguinte. Os dados completos podem consultar-se em Active Ageing Index 2014 Analytical Report.

Os resultados AAI são agrupados em três:

  1. Seis países lideram o indicador agregado com 39 pontos ou mais: Suécia, Dinamarca, Países Baixos, Reino Unido, Finlândia e Irlanda.
  2. O grupo seguinte está abaixo da média europeia: Bulgária, Grécia, Espanha, Letónia, Lituânia, Hungria, Malta, Polónia, Portugal, Roménia, Eslováquia, Eslovénia e Croácia. 
  3. No meio estão os restantes estados membros.

Portugal está em 16º lugar na ordenação de EU28 relativamente ao índice geral, 8º lugar no emprego, 20º na participação em sociedade, 21º no indicador de vida independente e 18º lugar na capacidade para o envelhecimento activo.

Verifica-se, da análise do quadro I, que apesar de estar no valor médio dos EU28, a diferença entre homens e mulheres é superior à média europeia.

Verifica-se, em Portugal, uma melhoria ligeira de 2010 a 2014, no entanto inferior à média europeia.

Portugal apresenta valores elevados, apesar da redução no período em causa.

Apesar de valor inferior à média europeia, verificou-se uma melhoria significativa no período considerado.

A subida do valor deste indicador é reduzida e afasta-nos da média europeia.

Da análise deste quadro verifica-se que, neste indicador, Portugal teve uma subida significativa, mas ainda precisa de progredir para se situar próximo da média europeia.

Conclusões

Este relatório permite evidenciar a qualidade, a independência e a multidisciplinar perspectiva no envelhecimento activo e saudável. Ajuda a compreender o envelhecimento activo nas suas componentes. É um instrumento para os decisores desenvolverem políticas que articulem os vários domínios de actuação, e, por último, permite ainda comparar a situação dos estados membros da EU28.

(1) Fonseca, António M. 2008/2009, Tempo da Vida. Fundação Calouste Gulbenkian
(2) http://www.un.org/esa/socdev/documents/ageing/workshop/2015NewYork/Pesentation_Asghar.pdf

Maria das Dores Ribeiro