Líder a exportar pessoas

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Na balança das transações demográficas, Portugal é líder a exportar pessoas. Em cada ano, um por cento da população deixa o território. E a mais recente análise, no âmbito do estudo “Três décadas de Portugal europeu”, mostra que este é um movimento sustentado que está para durar. Há cinco milhões de portugueses espalhados pelo Mundo e muitos, ao contrário do que acontecia nas primeiras vagas de emigração, não tencionam voltar.

Nos anos 60 e 70, milhares de portugueses ganharam a vida a pulso e pouparam para construir a casa de sonho, para preparar negócios que lhes assegurassem o futuro, para pagar os estudos dos filhos. Viviam 11 meses a suspirar por um de férias e tiveram, ao longo do tempo, um papel económico de peso, quer pelas remessas enviadas, quer pelo contributo que deram para dinamizar os locais de origem.

Não sei quantos dos 134 600 que emigraram em 2014 tencionam um dia voltar. Mas saem com objetivos diferentes, qualificados, com perspetivas de carreira, com uma visão menos pesada de um Mundo que se tornou mais pequeno. Hoje é fácil viajar e as novas tecnologias transformaram o modo de comunicar. Mesmo para os que saem empurrados, a mudança é mais fácil do que era há meio século.

Neste retângulo cada vez mais envelhecido e que se vai esvaziando, olha-se a emigração sem grande preocupação. De vez em quando fala-se na fuga de cérebros ou na (in)sustentabilidade da Segurança Social, mas há em contraponto economistas que até lançam análises otimistas e lembram que a emigração ajuda a diminuir o desemprego.

Deixo essa análise económica para quem sabe, mas não tenho dúvidas de que precisamos que quem sai continue a sonhar com o regresso e a acreditar que o futuro é possível por cá. Precisamos das suas qualificações e da experiência que entretanto adquirem. Precisamos de aprender, através deles, com os exemplos positivos e a diversidade cultural dos países de destino. Precisamos da energia que trazem às localidades de origem e dos seus investimentos.

Cada um dos 130 mil que partem anualmente tem um rosto, uma história, um percurso singular que explica a partida. Individualmente, será fácil encontrar quem decide emigrar sem angústias e para concretizar sonhos. Mas globalmente, um número tão grande de saídas só pode significar que o país falha e não oferece oportunidades para todos. E isso, sejam quais forem as contas dos economistas, só pode empobrecer-nos.

Inês Cardoso
Opinião JN 13.07.2015