O debate terminou

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Os governos, as empresas, mas, sobretudo, os cidadãos não podem deixar o tema da sustentabilidade sempre para os outros, sempre para amanhã. 

Há cem anos, o mundo tinha 1.800 milhões de pessoas, hoje, segundo as previsões das Nações Unidas, somos 7.300 milhões; e a perspetiva é a de que, em 2050, seremos quase 10.000 milhões. 
Que ritmo! Seremos capazes de continuar a alimentar este mundo? E que planeta estamos prontos para deixar aos nossos filhos e netos?
Esta sexta-feira, Dia da Terra, na sede da ONU, em Nova Iorque, 171 países assinaram o Acordo de Paris sobre o clima. Um momento considerado “histórico”, pelas promessas feitas para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa.

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU. Fotografia: REUTERS/Mike Segar TPX IMAGES OF THE DAY 
O acordo entrará em vigor quando for ratificado por pelo menos 55 países, responsáveis por pelo menos 55% das emissões. A data prevista para entrada em vigor é 2020, mas vários países já manifestaram a intenção de avançar antes.
Conforme disse Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, “Hoje (sexta-feira) assinamos uma nova aliança com o futuro”.
Oxalá, porque é insustentável o modo de vida atual. Não será mais possível fingir que nada se passa, se quisermos que o mundo, tal como o vemos, não se transforme num espaço de inundações, secas, fome e extinção de espécies, onde a segurança, claro, será uma miragem. 
O tempo para o debate terminou. Os governos, as empresas, mas, sobretudo, os cidadãos não podem deixar o tema da sustentabilidade sempre para os outros, sempre para amanhã. 
A palavra foi mal tratada, muitas vezes soa a manobras panfletárias, a tiques de tribos de gente esquisita e moralista, mas não é assim. Ser sustentável é simples e um dever de todos. Basta parar um segundo para pensar nas previsões catastróficas dos cientistas.
Por exemplo, no final do século, o nível médio do mar terá subido entre os 26 e os 82 centímetros e a Europa e a Ásia serão os continentes mais expostos a inundações. Há mais. Mas se está à vista, porque preferimos ficar na ignorância, porque preferimos não saber quanta água desperdiçamos num banho diário, ou porque recusamos a informação sobre as condições em que foi produzida a camisola que vestimos? 
No final de 2014, foi feita uma consulta pública sobre o consumo sustentável em 11 países da Europa, incluindo Portugal, no âmbito do projeto PACITA (Parliaments and Civil Society in Technology Assessment).
65% dos portugueses afirmaram estar muito preocupados com as questões do consumo sustentável e 69% afirmam que o indivíduo deve assumir principal responsabilidade nesse sentido. Somos europeus, civilizados, sabemos o que se passa e queremos mudar, mas quando chega ao momento de nos separarmos do nosso carro, ameaçamos chorar e arranjamos mil desculpas para aliviar a consciência.

Tanta consciência para consumidores nada ativistas.

Sílvia de Oliveira
Dinheiro Vivo 23.04.2016