Paradoxos do europeísmo

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Desenganem-se os europeístas da supremacia europeia. O mundo deixou irreversivelmente de ser uma coutada dos “civilizados”, dos “europeus”

É sempre estranho e ao mesmo tempo fascinante constatar os múltiplos casos da política em que os extremos se tocam.

A estranheza e o fascínio vêm acompanhados por um imenso enjoo quando o tocar dos extemos se esconde debaixo de uma profunda hipocrisia.

É o que se verifica com o chamado europeísmo. Um dos pontos essenciais da visão do europeísmo extremista, adoptado pelas concepções federalistas europeias é o que defende que a Europa se deve tornar numa superpotência, com a forma de um estado federal, que exerça uma verdadeira soberania europeia. Isto para que a Europa tenha uma voz determinante no mundo.

Na verdade, o que está aqui em causa não é mais do que um resquício da supremacia do homem branco, patacoada que a Europa do século XIX chocou, que durou por quase todo o século XX e que deixa marcas no XXI. Pois quê? Um mundo que não seja governado por brancos europeus ou norte-americanos, onde Chineses, Indianos, Africanos, Latino-americanos partilhem a governação do globo? Temos de novo a invasão dos bárbaros? Não sabemos nós que todos eles são consabidamente ineptos para respeitar os direitos humanos que nós, Europeus, temos respeitado escrupulosamente, desde a cruzada contra os Albigenses até ao nazismo, passando pelo colonialismo e pela escravatura em massa?

A ironia da situação é que este tipo de raciocínio coincide exactamente com os do outro extremo, a extrema-direita xenófoba. A diferença está em que estes últimos afirmam-no às claras (sem que com isso mereçam qualquer simpatia) enquanto os outros adoptam uma atitude hipócrita para respeitar o politicamente correcto.

Desenganem-se os europeístas da supremacia europeia. O mundo deixou irreversivelmente de ser uma coutada dos “civilizados”, dos “europeus”. E ainda bem, porque isso significa que não é coutada de ninguém.

João Ferreira do Amaral