Só a tecnologia nos pode salvar de Trump & Ca.

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É difícil classificar a estupidez de Donald Trump. Aliás, é difícil ser mais rigoroso do que, simplesmente, chamar-lhe estúpido. É o que ele demonstra ser, a cada dia que passa. Em comparação, o trapalhão George W. Bush merecia um Nobel da Física.

Vem isto, obviamente, a propósito da decisão do atual inquilino da Casa Branca de retirar os Estados Unidos dos acordos de Paris sobre as alterações climáticas.

Já sabemos há muito que a veracidade dos argumentos não é relevante para Donald Trump. Ao longo de toda a sua vida política, fosse no Twitter, em comícios ou em debates, o que hoje dizia não era necessariamente verdade amanhã. Nem a realidade alguma vez o impediu de engendrar as maiores ficções (“os mexicanos vão pagar o muro”; “não vamos deixar ninguém de fora do sistema de saúde”) e com elas obter votos suficientes para chegar ao mais poderoso cargo do planeta.

Só que desta vez a coisa é mais grave, porque é planetária. E ainda que a decisão de Trump possa vir a ter, no curto prazo, o irónico efeito de juntar contra ele outros países e muitos estados dos EUA – que de um momento para o outro parecem estar na disposição de se esforçar mais do que aconteceria normalmente para reduzir as suas emissões de CO2 – os argumentos apresentados para a decisão são, além de imaturos (“não sou o presidente de Paris, mas de Pittsburgh”, WTF!), falsos.

Isso mesmo foi sublinhado esta sexta-feira por vários cientistas, incluindo os mesmos que fizeram um dos estudos que Trump referiu no seu discurso, que acusaram o atual presidente dos EUA de “escolher a dedo” os dados apresentados. E unanimemente desmentiram todos os argumentos apresentados como factos.

O ponto é que, tal como atrás referi, a verdade e Trump estão há muito de relações cortadas.

Resta-nos, a nós que vivemos no mundo real, continuar luta por um futuro em que consigamos viver. Não será fácil e há muitas razões para estarmos pessimistas. Ainda na semana passada, Stephen Hawking alertava (e garantia não estar sozinho nesta previsão) que a humanidade tem cerca de mais 100 anos de subsistência na Terra. Segundo o físico, entre alterações climáticas, aumento da população mundial e consequente consumo de recursos do planeta, dificilmente haverá condições, daqui a um século, para sobrevivermos.

Quer isto dizer que estamos condenados? Possivelmente (seguramente, se Trump vier a convencer-se de que é possível vencer uma guerra nuclear). Mas há uma réstia de esperança, e ela chama-se ciência.

Um exemplo concreto: ainda esta semana, a revista Smithsonian noticiava a entrada em funcionamento, na Suíça, da primeira estação de captura de dióxido de carbono da atmosfera. O princípio é simples: aparelhos recolhem do ar o gás responsável pelo aquecimento global e injetam-no numa estufa próxima, onde plantas o transformam em oxigénio.

A tecnologia está a dar os primeiros passos – neste momento a exploração é apenas “neutra”, ou seja, o carbono que recupera é idêntico ao usado para o seu funcionamento – mas é promissora.

Ao mesmo tempo, os métodos de produção de energia renovável estão cada vez mais eficientes e são já um dos setores mais geradores de emprego nos EUA (outra falácia de Trump quando diz que a energia “verde” é limitadora do crescimento económico).

A cada dia que passa, tanto nos laboratórios das universidades como nas grandes empresas, investigadores tentam encontrar novas formas de criar energia “limpa” e debatem-se ideias para tentar “limpar” o planeta. Se há alguém que nos pode salvar, são eles. Devemos-lhes todo o apoio (financeiro, logístico, moral…) possível.
Ricardo Simões FerreiraLer mais em: DN opinião 04.06.2017