Um novo léxico: “medida estrutural conjuntural”

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A crise e a troika trouxeram-nos um novo léxico para as medidas de corte (ou poupança, no glossário governamental). Por exemplo, passámos a saber que a fronteira entre extraordinário e definitivo é muito ténue, que temporário pode passar a definitivamente ordinário, que excepcional, de tão repetido, pode chegar a permanente. Ainda que possa passar por ser transitório, o que não significa necessariamente anual. Mas, mesmo assim, especial.

Tudo de tal modo que parece que as palavras passaram a ter mais poder do que as ideias.

Fiz esta introdução da prática do Governo para agora constatar uma nova modalidade lexical, por via da apregoada descida da TSU dos trabalhadores, proposta pelo PS. Começo pela curiosa explicação da medida. Anunciada pelo estudo dos economistas como medida para estimular o consumo privado, teve depois (por causa das críticas, mesmo na área socialista) de ser enroupada por uma explicação no contexto do sistema da Segurança Social. É assim que nos têm dito que esta medida visa promover estruturalmente a “diversificação das suas fontes de financiamento” . E toda a gente (ou quase) ficou aliviada com tão douta explicação.

Só não percebo como uma medida tão estrutural só vai durar uns (poucos) aninhos. Porque se bem

entendo (ver gráfico, clique para o aumentar), a tal diminuição da TSU atinge 4 pontos percentuais em 2018 para a partir daí voltar a subir e atingir, de novo, os actuais 11% em 2026. Não dá a cara com a careta.

Acresce que a TSU descerá, tão-só, no período da nova legislatura. A seguir aumentará (?), mas noutra legislatura. Tudo bem construído, como se vê. Quem vier a seguir a mim, que faça o favor de ser impopular e enterrar a tal “diversificação das fontes de financiamento”.

Em suma: temos uma inovação no vocabulário político: medida estrutural (sabiamente) conjuntural.

Bagão Félix

http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2015/06/16/um-novo-lexico-medida-estrutural-conjuntural/