Velhice

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Escuta. Depois poderás sorrir, ironizar, aceito mesmo que duvides da seriedade com que te falo ou do estado do meu juízo. Não te apresses a julgar, de facto é como há pouco dizia: deixei de ter idade.

Tu, longe dos meus muitos anos, terás de aceitar a premissa, aceitar também que o que sei e sinto não se aprende em livros, resulta da experiência que para cada um de nós é diferente, desirmanada, única. E que quanto mais longa se torna, mais estranha parece, pelo que de bom aviso são os idosos que escondem o que pensam e sentem, perpetuando a ficção das gerações, a qual, além de agradar ao comum, oferece o descanso de manter cada macaco em seu galho.

A realidade é que não há velhos, só desistentes da vida: os que aos trinta anos calculam a reforma, aos quarenta jogam golf, dos cinquenta em diante temem o coração e a próstata.

José Rentes de Carvalho, Blogue TEMPO CONTADO