Voto encolhido

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“Tenha medo, muito medo. E por isso vote em nós.” O slogan não é de todo apaixonante. Não fervilha de ideias mobilizadoras, não transmite propostas ou medidas inovadoras, não convida à esperança. E no entanto é neste apelo que poderiam resumir-se os 33 minutos de intervenções dos protagonistas da coligação, na apresentação do programa eleitoral.

O fantasma da bancarrota, a falta de renovação socialista que fará regressar às políticas do passado, as furiosas empresas de rating que esperam o resultado das eleições para decidir como nos avaliam: os perigos espreitam de todos os cantos e há que tê-los em conta no momento de colocar a cruzinha no boletim de voto. Encolhido, de preferência.

Não há discurso mais irritante do que o do medo. E gastar tanto tempo de antena a agitar o discurso do passado é um desperdício. Claro que a afirmação de propostas se faz sempre por oposição a outras. Uma campanha assenta no pressuposto de que o projeto político em causa é melhor do que o dos restantes candidatos. Mas só será melhor se souber apresentar as suas virtualidades e empolgar os eleitores.

Depois de quatro anos de austeridade, em que um quinto dos portugueses vive em risco de pobreza, percebe-se que as políticas sociais mereçam particular atenção por parte da coligação “Portugal à Frente”. O mesmo Governo que tem vindo a entregar novas funções às IPSS apresenta agora o Estado social como aposta. Não só nos devemos alegrar porque nos últimos quatro anos tivemos um Governo capaz de “defender o Estado social do socialismo”, como devemos reconhecer que é graças aos nossos governantes que nos mantemos livres. “Estamos hoje a lutar mais por Abril e pela liberdade do que em tantos anos se fez em muitos outros governos”, assegurou Passos Coelho.

É exatamente por prezar tanto a liberdade que não concebo uma democracia contaminada pelo medo. Nem medo de governos minoritários, nem de debates desassombrados, nem de encarar todas as alternativas e propostas políticas sem estar sempre a recorrer ao passado. É verdade que a sabedoria popular é imensa, mas nem sempre correta – e a prova disso é que não faltam ditados contraditórios. Engana-se Paulo Portas ao defender que “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. É que Abril fez-se precisamente para aspirarmos a mais do que a falsa segurança do já conhecido. “Para pior já basta assim” é um fraco argumento para convencer seja quem for a votar.

Inês Cardoso
Opinião JN 31.07.15